terça-feira, 20 de setembro de 2011

Vocês tão lá!

DM: Vocês tão lá!
Jogador 1(Elfo): Lá onde?
DM: Na sala do rei, ele quer que vocês resgatem a filha dele das garras de um necromante que a raptou.
Jogador 1(Elfo): Já começa assim? O grupo todo já se conhece e tal?
DM: É pra cortar a linguiça.
Jogador 1 (Elfo): Ah tá.
DM: O rei se dirige ao guerreiro e diz: "oh nobres aventureiros salvem minha preciosa filha e serão muito bem recompensados!"
Jogador 2 (Guerreiro): Eu digo ao rei: "eu mato e depois pergunto"
Jogador 1 (Elfo): Oxe! Isso é coisa que se diga na frente do rei? Tu tá doido é?
DM: O rei parece não ter entendido o que você quis dizer.
Jogador 2 (Guerreiro): Eu repito para o rei em alto e bom som: "EU MATO E DEPOIS PERGUNTO!"
Todos os outros jogadores simultaneamente: Affff...
DM: O rei te ignora e decide falar com o mago.
Jogador 3 (Mago): Não se preocupe vossa majestade, faremos o possível para salvar sua filha!
DM: "Muito obrigado nobres aventureiros, aqui está um mapa com a localização da torre do vilão!" ele entrega o mapa ao mago.
Jogador 3 (Mago): Beleza, a gente sai do castelo.
Jogador 4 (Ladrão): Que a gente sai do castelo? Antes de ir eu pergunto ao rei o que ele nos oferece em troca de uma missão tão arriscada?
DM: 1000 po
Jogador 4 (Ladrão): Pra cada?
DM: Pra cada.
Jogador 4 (Ladrão): Agora a gente sai.
Jogador 2 (Elfo): Mas quem garante que a gente vai sair vivo? Mestre, eu peço ao rei um adiantamento.
DM: Ele oferece 100 po para cada de adiantamento.
Jogador 2 (Elfo): Agora sim a gente sai.
Jogador 1 (Guerreiro): Aleluia! Até que enfim!
DM: Quando vocês saem do castelo são emboscados por elfos negros.
Jogador 2 (Elfo): Eu saco minha espada.
Jogador 3 (Mago): Eu fico atrás do guerreiro.
Jogador 4 (Ladrão): Eu preparo minhas adagas.
Jogador 1 (Guerreiro): Eu tenho um cavalo?
DM: Não, você não tem um cavalo.
Jogador 1 (Guerreiro): Então eu volto para o castelo.
DM: Enquanto o guerreiro foge para o castelo, os elfos atacam o grupo.
Todos os outros jogadores: Afff...

Esse foi um pequeno resumo da primeira vez que eu joguei RPG, em meados de 2000, quando eu ainda fazia a 6º série. Eu não tinha muita idéia de como o RPG funcionava, mas mesmo assim achei muito divertido, apesar de ter sido expulso da mesa pelo DM (eu era o guerreiro da cena acima descrita). Mas mesmo assim eu continuei assistindo a aventura.
O sistema era AD&D e tudo que eu me lembro sobre as regras na época era que um dos jogadores havia dito "essa é a pior rolada de atributos que eu ja vi", os atributos foram rolados todos com 3d6 e em sequência, "rola os dados aí, deu quanto? 7? essa vai ser a sua força, agora rola os dados de novo pra ver a destreza..."
Depois eu levei a ficha pra casa e resolvi mestrar pro meu vizinho com o que eu sabia e tinha (uma ficha tosca numa folha de caderno e um dado de 6 lados). Eu não sabia nem como o sistema funcionava e nem como narrar uma aventura, na verdade eu nem sabia o que era uma aventura, muito menos que esse termo existia.
Resumindo, a primeira aventura que eu narrei era algo parecido com um jogo de briga de rua: uma sequência de combates com um pretexto bem simples, algo tipo vá salvar a princesa do feiticeiro maligno. Hoje eu me pergunto como eu consegui narrar essa aventura sem noção alguma de regra alguma. Mas aí é que eu percebo que o elemento principal do RPG eu tinha captado na época: a imaginação.
O primeiro grupo de RPG que eu participei parou de jogar sem nem ter terminado aquela aventura, e eu comecei a ter mais contato com o RPG por ironia do destino.
Certo dia eu e mais dois amigos estavamos perambulando pelas ruas do meu bairro (ainda moleque, mais ou menos na mesma época que tinha jogado RPG na escola), caçando lagartixas com estilingue ou baleadeira como chamam por aqui (já éramos aventureiros na época [risos] ), quando encontramos em meio ao lixo de uma casa uma pilha de revistas. "Pia o que é revista! Tem até uma de Dragon Ball Z!" disse um dos meus amigos, e fomos todos correndo pilhar as revistas no lixo.
As revistas eram a antiga Dragão Brasil, e ao folheá-las eu percebi que eram de RPG. Eu fiquei surpreso na época, "por que jogariam essas revistas de RPG no lixo?", mas hoje eu acho que elas foram parar ali porque talvez foram acusadas de serem "do capeta".
Enfim, em meio as revistas que encontramos naquele dia havia um Manual 3d&t do vermelhão, o primeiro de todos, e a primeira edição de Tormenta, além de outras edições avulsas.
Parece que foi obra dos deuses, aquelas revistas virem parar nas minhas mãos, depois daquilo a gente jogou 3d&t durante algum tempo. Mas eu ainda não tinha muita noção de como mestrar, minhas aventuras eram todas estilo railroading.
De lá pra cá muita coisa aconteceu, eu conheci outros jogadores e outros mestres além de outros sistemas também, GURPS, D&D 3º edição, Vampiro e tudo mais.
RPG é tudo de bom.